Polêmica histórica e rebaixamento: o carnaval da Acadêmicos do Tucuruvi

 

Toda escola de samba almeja fazer um desfile que entre para a história pela beleza apresentada em fantasias, alegorias, bateria impecável, componente cantando o samba com euforia, mestre-sala e porta-bandeira evoluindo com a elegância característica, enredo desenvolvido com clareza e objetividade. Assim serão conquistadas as notas dez que farão a agremiação ser a Campeã. A fórmula é esta. Para a Acadêmicos do Tucuruvi, quinta escola a apresentar-se na noite do sábado de carnaval no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo, uma alegoria fez atravessar o enredo Assojaba – A busca pelo manto, desenvolvido pelos carnavalescos Dione Leite e Nicolas Gonçalves. A alegoria apresentava o Imperador Dom Pedro II decapitado. De imediato críticas torrenciais e notas de repúdio eclodiram pelas redes sociais. No ano em que comemora-se o bicentenário de nascimento do mais culto governante de toda a história brasileira, o erro grosseiro, o mau gosto e o desrespeito à figura imperial jamais passariam despercebidos. O grave erro da penúltima colocada nas notas dos jurados do Carnaval de São Paulo foi o de defender uma tese, sem nenhum fundamento histórico, fácil de ser refutada. Quis chocar e ao final da apuração constatou que os 269 pontos a levaram ao rebaixamento. Tratar História como assunto menor, com superficialidade ou paixões ideológicas, é seguir o caminho do erro, fato a ser observado pelo júri.

O historiador Paulo Rezzutti, biógrafo de Dom Pedro I, Dona Leopoldina e Dom Pedro II, ao ver o tamanho do erro defendido pela Tucuruvi, fez a seguinte declaração: "Este Carnaval eu estou adiantando algumas coisas para a divulgação da reedição da biografia do d. Pedro II e preparando uma parte da exposição sobre ele que abre dia 12 de abril. Coincidentemente, ontem, eu estava separando a parte do diário de viagem de d. Pedro II às Províncias do Norte e ao Espírito Santos, os desenhos que ele fez dos botocudos que ele visitou e do vocabulário que ele aprendeu junto aos Purís. E me enviaram essa imagem. A desconstrução da nossa história e dos personagens é importante, sem isso não evoluimos, mas para que essa desconstrução seja séria é preciso de base, de conhecimento. Nada do que eu estudei e estudo sobre d. Pedro II me leva a entender que esse carro alegório representa algo real, factível. Uma alegoria é um modo de expressão ou interpretação em que pensamentos e ideias são representadas. Eu entenderia a cabeça de algum bandeirante nas mãos de um nativo, mas a de d. Pedro II... Houve ideia de catequese, de aldeamento, de "civilizar" os povos originários. Nada diferente do espírito e das ideias eurocêntricas da época em todos os países da América. Mas não foi implementado nenhum plano de assassinato dos povos nativos ou de guerra aberta contra eles, como houve até o fim das chamadas Guerras Justas, em 1831. Enfim, eu só posso lamentar tantos equívocos e dedos apontados sem sentido algum".

No sábado, 8, ocorre o Desfile das Campeãs do Carnaval de São Paulo. Por terem sido rebaixadas ao Grupo de Acesso 1, Tucuruvi e a Mancha não participarão do desfile

 

 
Alegoria da Acadêmicos do Tucuruvi, penúltima colocada no Carnaval de São Paulo em 2025

 

 

 

 

 

 

Comentários

  1. Mereceu a desclassificação, por terem adulterado a História.

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  2. Rebaixamento? Foi pouco, mereceu! Aprenderão a não desconstruir a História .

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