Mangueira comemora 95 anos

 

A Estação Primeira de Mangueira está comemorando 95 anos de fundação. Nestas quase dez décadas tornou-se um dos mais incontestáveis símbolos do Carnaval Brasileiro. Possui 20 títulos de Campeã, sambas memoráveis, um panteão de notáveis e um componente que samba com uma garra e uma paixão que confirmam a letra do samba: Cuidado que a Mangueira vem aí é bom se segurar que a poeira via subir. Enfim, é uma Escola de Samba. Durante décadas só encontrava na Portela, no Império Serrano e no afilhado Salgueiro, rivais que poderiam impedir a conquista do primeiro lugar. É a Verde e Rosa, as cores inconfundíveis que somadas aos acordes da sua inconfundível bateria, são a prova viva da grandeza da cultura popular brasileira. 

Nesta data querida de 28 de Abril, a Estação Primeira divulgou a sinopse do enredo para o carnaval de 2024. O enredo divulgado na primeira quinzena de março, inclusive aqui nas nossas páginas, presta uma homenagem à cantora Alcione. A mais mangueirense dos maranhenses foi o centro da festa de aniversário da agremiação. 

 


 


 “A NEGRA VOZ DO AMANHÔ
Sinopse - Carnaval 2024 - Estação Primeira de Mangueira

O sonho que me criou tinha som!
Canto de voz negra, de mulher,
De São Luís do Maranhão.
De sangue Nazareth, do amor de Seu João Carlos e Dona Felipa.
Conduzida pela fé, pelos encantos de sua gente e solos de piston.
Pelo desejo de ser, o destino em vencer, pela vontade em tecer
Novos caminhos aos sambistas e mulheres de uma nação.
Da esperança fez seu afã;
De sucesso, sou eu, o seu amanhã.
Nasci a sombra de um velho cajueiro,
Templo de memórias de minha pequena,
Cuja família farta foi sua primeira devoção.
Dos filhos, era a quarta,
De uma infância de bonecas feitas à mão,
Ao som dos metais, ensinados pelo pai,
Em sua instrumental criação.
Na sua vida, logo a música marcou presença
Mergulhada, também, em tantas crenças, preces e procissões
De seu povo que lhe ensinou desde cedo
Que a fé vai muito além das religiões.
Tudo é questão de crer numa força maior e do bem,
Seja de Mina, Encantado ou de amém.
Adorê as almas! Que se afaste de nós todo quebranto!
Xangô nos guie com Iansã
Na graça de Deus, da Virgem Maria e do Espírito Santo!
Me bordei com ela em fitas, rendas e flores
Se encantou com os tambores
Que falam com pandeirões e matracas;
Caixas e maracas fazendo tremer o chão!
Em ladainhas de reisado, em folias de Fofão,
Em louvor a São Marçal, São Pedro e São João.
Quem “inda” não viu Tambor de Crioula do Maranhão?
Rodam saias de coreiras em cortejo colorido,
Pés descalços, canto preto, coração a São Benedito!
Cazumbá chegou e o boi se levantou
Riscou a ponta na terra que o terreiro poeirou,
Brincaram caboclos no balançar das penas,
Desfilaram vaqueiros montando a cena.
Pra festejar o touro negro que a encantou.
Cresci ao viver o que a cultura popular lhe proporcionou!
Me arriscou pra se fazer mais forte!
Sob a batuta de seu velho, cantou os primeiros acordes
Educou e buscou a própria sorte após uns solos de trompete.
Desembarcou num Rio Antigo
E, através dos discos, seguiu o sonho da canção.
Buscou a sua “grande chance” sendo o som das madrugadas,
Das turnês, clubes e baladas
Até se tornar a Marrom.

O cantar marcante que entoava
As poderosas divas negras, até ser notada
Como aquela que seria a grande voz
Do Swing e da ginga; do soul e mandinga;
Do banzo e Blues;
Do partido alto e seu primo Jazz,
Afro-mestiço, preto de olhos azuis.
Recebeu, enfim, seu anel de bamba
Começava, ali, a sua história com o samba.
Ganhei corpo malandreado e um gostoso requebrado
Que a levou às paradas de sucesso, ao tão sonhado estrelato
Obviamente, não foi fácil, mas onda forte não derruba quem tem fé
Nem machuca quem tem Figa de Guiné!
Seu surdo te escutava e chorava para o povo se alegrar
E aí foi que eu sambei, comadre
Com seu companheiro, o amigo pandeiro,
Que apanha sorrindo pra gente cantar. Que sufoco!
Amor louco pelo samba, que me vira a cabeça e envenena,
Mas que sempre vale a pena, pois é garoto maroto, menino sem juízo,
E já aprendemos a te aceitar assim, faz bem pra mim e pra todo mundo.
Você o transformou, também, como bandeira de luta, dando um alerta geral
Sobre a importância da música nacional, a nossa negra cultura ancestral,
Através de seu cantar, como um ser de luz, um eterno sabiá,
Tornou-se o vício das massas, a porta voz de sua raiz,
A estranha loucura de um país. A loba escondida de várias mulheres,
A cor marrom de tantos Brasis.
Mas eu não estaria completo se não chegasse onde você queria,
Na comunidade em que deixo de ser apenas seu, para ser de tantos, como magia.
Onde o ébano desce o morro,
Se vestindo em verde e rosa e encantando a poesia,
Além da menina, que via fotos das baianas pelas páginas do Cruzeiro
E se deu como missão encontrar os baluartes e partideiros
Da Primeira Estação, fazendo desse chão seu novo terreiro.
Mas não bastava apenas desfilar, era preciso transformar aquele lugar,
Pois seu dom sempre foi, além de cantar, estar pronta para alegrar e ajudar.
Mangueira é uma mãe que escolheu você como filha
Que não nasceu no Buraco Quente, mas veio de amorosa ilha
Para transformar o “Amanhã” dessa gente que hoje brilha
Como rainhas e ritmistas, cantores, casais e passistas
Crianças que se transformaram e encantam como artistas.
De uma escola onde não sou apenas amanhã,
Sou hoje!
Que luta com você para nunca deixar o samba morrer!
De um povo que te ama, que na avenida te espera e aclama
Por te conhecer ao longe,
A minha negra voz, a nossa amada Alcione!



Texto e desenvolvimento de enredo: Guilherme Estevão, Annik Salmon e Sthefanye Paz

 

 

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