Rosa Maria Egipcíaca é o enredo da Viradouro em 2023

 

Revelando pela segunda vez uma personagem pouco conhecida da História do Brasil, a Unidos do Viradouro anunciou nesta sexta-feira, 13 de maio, o enredo para o carnaval de 2023: Rosa Maria Egipcíaca. Seguindo os passos de Joãozinho Trinta e o enredo Tereza de Benguela, apresentado pela escola em 1994, o carnavalesco Tarcísio Zanon, campeão em 2020 junto com Marcus Ferreira, em seu primeiro carnaval solo na Vermelho e Branco de Niterói, revela para os foliões a africana que foi escrava, prostituta, beata católica e autora do livro Sagrada Teologia do Amor Divino das Almas Peregrinas, primeira obra escrita por uma negra no Brasil. A agremiação surpreendeu até mesmo Luiz Mott, autor da biografia Rosa Egipcíaca: uma santa africana no Brasil, fruto de minuciosa pesquisa feita no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa. O Mestre pela Sorbonne, Doutor pela Unicamp e Professor Titular do Departamento de Antropologia da Universidade Federal da Bahia, em temporada na Espanha, foi informado por um amigo baiano residente em Paris que a sua obra, publicada em 1993, serviu de base para o enredo da Viradouro. 

Mott declarou a este Blog o duplo momento de felicidade com o enredo e o relançamento do livro: 

"A ex-escrava e ex-prostituta Rosa Egipcíaca é o exemplo da riqueza cultural do Brasil e de nossa surpreendente diversidade, pois aproveitando-se das brechas do sistema escravista, fundou um recolhimento onde predominavam mulheres negras, foi proclamada pelo alto clero como 'a flor do Rio de Janeiro', porém, acusada de embusteira terminou seus dias presa no Tribunal da Inquisição de Lisboa. Sua vida rocambolesca, um verdadeiro 'samba da crioula doida', é um hino à resistência, um verdadeiro caleidoscópio de vivências, sofrimentos e alegrias. Fiquei felicíssimo com sua escolha como próximo enredo da Viradouro, caminho certo para mais um campeonato. A vida de Rosa merece ser uma minissérie e um longa metragem após a consagração popular na Passarela da Marquês de Sapucaí.

"Sou um antropólogo pesquisador de nossa história social, um etnohistoriador. E nos muitos anos que passei garimpando manuscritos nos arquivos de Portugal e Brasil, encontrei na Torre do Tombo de Lisboa uma pérola preciosa: o processo inédito de Rosa Egipcíaca, natural do Reino do Benin, Lagos, de nação Courana, que deflorada por seu dono aos 12 anos, após décadas vivendo como prostituta nas Minas Gerais, onde foi açoitada no pelourinho acusada de embusteira, foge para o Rio de Janeiro, onde funda um recolhimento para ex-mulheres da vida, sendo adorada de joelhos por uma multidão de devotos.

"Sua vida, minuciosamente reconstruída no livro Rosa Egipcíaca, uma santa africana no Brasil, 750 paginas, no prelo sua segunda edição, é a biografia mais detalhada que existe no mundo de uma africana nos meados do século XVIII, incluindo cartas e algumas páginas de um livro de sua autoria que foi queimado quando de sua prisão. Muito mais que a mitológica Escrava Anastácia, é Rosa Egipcíaca a santa africana que melhor representa a diversidade do sincretismo afro-carioca-brasileiro".

E ainda há quem diga que carnaval não é Alta Cultura! O sábio João Gilberto respondeu corretamente: Pra quê discutir com Madame? 



 

 

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