Bum bum paticumbum prugurundum

 

Eram 10:35 da manhã da última segunda-feira de fevereiro. A Marquês de Sapucaí via a décima segunda (e última) Escola de Samba do Grupo 1-A iniciar a apresentação naquele Carnaval de 1982. Naquela época em que as arquibancadas eram montadas e desmontadas para o reinado de Momo, o sol intenso de 37 graus de um típico verão da Cidade Maravilhosa não fez ninguém desistir de assistir ao desfile do Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano. Além de ser uma das mais tradicionais e vitoriosas agremiações do carnaval carioca, o Império, celeiro de alguns dos mais belos sambas da história, apresentaria o enredo Bum bum paticumbum prugurundum. Surgido de uma ideia do carnavalesco Fernando Pamplona, a partir de uma frase de Ismael Silva (1905-1978), um dos fundadores da primeira Escola de Samba, e que foi desenvolvido pela dupla Rosa Magalhães e Lícia Lacerda, o enredo fez surgir um samba-enredo que já nasceu antológico. Carlos Drummond de Andrade o definiu como "uma formidável onomatopeia" e escreveu uma coluna no Jornal do Brasil com o título do enredo. O chão da Verde e Branco Imperial, expressão para definir quem desfila com paixão e orgulho por uma escola,  provou que uma onomatopeia não faz um samba atravessar. Os 187 pontos conferidos pelo júri fizeram o Império Serrano conquistar o 9º campeonato.

 

Mestre-sala Sérgio Jamelão e a Porta-bandeira Maria


Composto por Aluísio Machado e Beto Sem Braço (Laudeni Casemiro), muito antes do carnaval já era o samba mais cantado e aclamado daquele ano. Quem desfilou no Império em 1982, recorda que foi um momento de êxtase quando Quinzinho (Edimburgo José de Almeida), o intérprete oficial da Verde e Branco da Serrinha, começou a cantar. Este é o testemunho de um ritmista da agremiação naquele histórico dia 22 de fevereiro de 1982. Silas de Oliveira Junior, filho do maior compositor de sambas do Império Serrano, Silas de Oliveira (1916-1972) relata que acompanhado da mãe Elane, das irmãs Vera Lúcia e Elenice chegou à concentração nos Correios ao final da noite do domingo para viver - muitas horas depois - um dos mais belos momentos da história da sua escola do coração. Garante que o samba-enredo foi o grande fator para manter as arquibancadas lotadas debaixo de um escaldante sol fazendo com que o refrão "Bumbum Paticumbum Prugurundum / Contagiando a Marquês de Sapucaí" fosse cantado por todos com extrema facilidade. Silas Junior é uma testemunha que viveu todo o desfile, pois os ritmistas da bateria de cada Escola de Samba são os que mais tempo ficam na avenida. São os primeiros a entrar e os últimos a saír. Sem eles não há Bum Bum Paticumbum.

 

Bateria do Império Serrano no Carnaval de 1982

Império Serrano Campeão do Carnaval 1982


O Carnaval de 1982 é mais que memorável para os imperianos. O campeonato e os 6 Estandartes de Ouro, prêmio conferido pelo jornal O Globo, foram o prenúncio de uma década onde a Verde e Branco fez grandes carnavais, especialmente pelo fato de no ano anterior (1981) a agremiação ter sido a última na classificação do júri. Para a carnavalesca Rosa Magalhães foi o primeiro dos 7 troféus que possui, o que a consagra como a carnavalesca detentora de mais títulos de campeã.


As carnavalescas Rosa Magalhães e Lícia Lacerda


Nêgo, o intérprete do Império Serrano, canta um trecho do samba-campeão de 1982 (vídeo)


G.R.E.S. Império Serrano

Bum bum paticumbum prugurundum    

Compositores: Beto Sem Braço e Aluísio Machado


Enfeitei meu coração
De confete e serpentina
Minha mente se fez menina
Num mundo de recordação
Abracei a Coroa Imperial
Fiz meu carnaval
Extravasando toda minha emoção
Oh ! Praça Onze tu es imortal
Teus braços embalaram o samba
A sua apoteose é triunfal
De uma barrica se fez uma cuíca
De outra barrica um surdo de marcação

Com reco-reco, pandeiro e tamborim
E lindas baianas o samba ficou assim


E passo a passo no compasso o samba cresceu
Na Candelária construiu seu apogeu
As burrinhas que imagem, para os olhos um prazer
Pedem passagem pros Moleques de Debret
"As Africanas", que quadro original
Iemanjá, Iemanjá enriquecendo o visual

Vem meu amor manda a tristeza embora
É carnaval, é folia neste dia ninguém chora


Super Escolas de Samba S.A.
Super alegorias
Escondendo gente bamba
Que covardia
Bumbum Paticumbum Prugurundum
O nosso samba minha gente é isso aí
Bumbum Paticumbum Prugurundum
Contagiando a Marquês de Sapucaí

 

 Os compositores Beto Sem Braço e Aluisio Machado

 

 Silas de Oliveira Junior

 

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Comentários

  1. Adorei ler a história da Império Serrano com este lindo samba do Beto e Aluísio em 1982.

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