Vou me embalar na poesia dos 98 anos da Portela

 

Eu sou e sei que sou mais fascinante, deslumbrante, mais amor. Bem sei que você aprova, pois meu visual comprova eu sou luxo e esplendor. Com esta definição, só podemos estar referindo-nos ao Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela. Para a única heptacampeã do carnaval carioca, os versos de Carlinhos Madureira, Café da Portela e Iran Silva, cantados na Sapucaí em 1991, explicam o orgulho que a agremiação fundada em 11 de abril de 1923 causa em seus torcedores há exatos 98 anos. 

Para fazermos parte dos festejos pelos 98 anos deste Patrimônio da Cultura Brasileira que é a Portela, convidamos dois Portelenses para relatar o tamanho da paixão pela Majestade do Samba: o compositor Wanderley Monteiro e o fotógrafo Guy Veloso.

A Portela segundo um humilde compositor portelense nos seus 98 anos.

Um dia, ainda criança/adolescente comecei a ouvir samba Ivone Lara e Delcio Carvalho, Wilson Moreira e Nei Lopes, João Nogueira e Paulo César Pinheiro, Paulinho da Viola e Elton Medeiros, Candeia, Monarco e tantos outros grandes compositores que estavam na moda nas vozes de Clara Nunes, Roberto Ribeiro, Beth Carvalho, Alcione, Martinho da Vila e todos os sambas que se divulgava na época. Passei a prestar atenção a uns compositores que vinha de Madureira: Monarco, Candeia, Alberto Lonato, Mijinha, Manaceia, Alcides Lopes Malandro Histórico, Casquinha, Alvaiade, Chico Santana, Noca da Portela, Picolino, Argemiro, Antonio Rufino, Jair do Cavaquinho. Fiquei apaixonado pelos sambas desses caras e falei: sou Portelense. Portela tem quantidade com qualidade. Eles me fizeram ser portelense. 

Lá pelos meados da década de 70 já impunhava meu cavaquinho, presente do Alírio, irmão mais velho, e cantava tudo que ouvia (de bom). Ainda não era fã de carnaval, mas sempre torcia para a vitória da Azul e Branco de Madureira, por causa deles. 

Comecei a compor com meu parceiro/irmão Álvaro Maciel sambas ainda amadores, porém compúnhamos. Passamos a disputar samba-enredo no bloco da comunidade onde sou nascido e criado, Aventureiros do Leme. Ganhamos alguns. 

A vida seguiu e passei a levar mais a sério a arte de compor. Procurei outros parceiros e fui aprendendo e me aperfeiçoando. Um dia resolvi tentar disputar um samba-enredo na minha Escola querida, Portela com mais um parceiro portelense, Luiz Carlos Máximo. Conversei com o Presidente da Ala de Compositores na época, Edir que fazia parte da Velha-guarda Show com quem sempre eu encontrava no Candongueiro, uma casa de samba de Pendotiba, Niterói onde eu tocava. Depois conversei com Tia Surica e com o Diretor Social da Portela à época Seu Carlos Montes (pai da Marisa Montes). Todos me apoiaram e me incentivaram a entrar para a Ala de Compositores da Portela. ( a essa altura eu já tinha alguns sambas gravados com Beth Carvalho e outros cantores). 

No primeiro ano não deu certo. Nosso samba não foi para a quadra, caímos na audição ninguém conhecia Wanderley Monteiro e no dia da entrega não encontramos com nenhum dos três apoiadores na quadra para receber o aval e o apoio deles na entrega do samba. No mesmo ano participei do concurso de samba de quadra realizado na Escola, classificamos em 9º lugar e assim fomos inscritos na famosa Ala Ary do Cavaco. 

Depois de perder alguns anos a disputa de samba-enredo e ganhar alguma “casca”/experiência, cheguei com os parceiros à primeira vitória. Em 2009 meu primeiro samba-enredo na minha Escola na Sapucaí. Meu sonho realizado. Não é fácil ser debutante de compositor campeão na Sapucaí. Na Portela, uma grande Potência do Carnaval. O coração treme. A gente fica olhando pra arquibancada. A gente olha para os jurados. A gente olha o cronômetro preocupado em dar tudo certo com a Escola. A gente sonha mais alto: o campeonato com meu samba, será? 

G.R.E.S. Portela 2009 

E Por Falar Em Amor, Onde Anda Você? 

Autores: Ciraninho / Diogo Nogueira / Junior Escafura / L.C. Máximo / Wanderley Monteiro 

“Oh! Majestade do Samba 

Meu orgulho maior é tua bandeira 

Chegou minha Portela! Meu eterno amor 

A luz de Oswaldo Cruz e Madureira” 

O campeonato não veio. Ficamos em 3º lugar. Uma vitória para a Portela naquela época.  Outras disputas vieram. Perdi 2010 “ Caiu meu samba-enredo caiu Caiu por terra meu coração Nada de mágoa, ressentimento Tudo em prol da Agremiação” (Alvaro Maciel/Wanderley Monteiro) 

Aí começou a aparecer o meu nome na Portela. Ganhamos 2011, 2012 e 2013 e 2016. O samba de 2012 foi o auge da emoção de um portelense na Avenida. Todo o mundo do carnaval no Rio de Janeiro falava daquele samba. Falava que a Portela ia ser campeã, que era o melhor samba dos últimos anos. E foi. Quatro notas dez na Avenida e eleito ano passado como o melhor samba da década. 

Naquele desfile eu me sentia o protagonista da Portela (a inexperiência ainda imperava) mas foi demais. Pra mim tudo girava em torno do samba Madureira Sobe o Pelô. Voltando à apresentação do enredo, o carnavalesco do enredo, Paulinho Menezes, pediu para que ousássemos, então em um momento da feição do samba eu sugeri que repetíssemos um verso antes do refrão: “No mar  Procissão dos navegantes Eu também sou almirante De nossa Senhora Iemanjá".  Esse foi o diferencial, junto com o balanço do samba de roda da Bahia que foi implementado ao samba-enredo que deu toda diferença a este samba. 

Naquele desfile meu sangue parecia azul e branco literalmente, tal a emoção em atravessar a Avenida cantando um samba meu, e dos parceiros, na Minha Portela. Uma Escola que é uma Escola por aqueles que escrevi lá em cima. Portela é uma Religião. Portela é uma Paixão. 

Parabéns, Portela de um humilde compositor portelense pelos seus 98 anos. 

O Samba da Década: “Madureira sobe o Pelô, tem capoeira Na batida do tambor, samba ioiô Rola o toque de olodum, lá na Ribeira A Bahia me chamou” (Wanderley Monteiro / Luiz Carlos Máximo / Naldo / Toninho Nascimento / André do Posto Sete)

Wanderley Monteiro

 

 Eu sei que faço seu corpo arrepiar
Eu sei que você não vai sem me ver passar


 

 

 

 Até a cor do esmalte é azul para desfilar na Azul e Branco de Madureira e Oswaldo Cruz

Eu sou vaidosa
Eu sou assim
Vaidade não tem preço
Mas eu tenho o seu apreço

 O meu azul veio lá do infinito

 O meu canto é mais bonito

Salve Oswaldo Cruz e Madureira

Me chamam celeiro de bamba


 

A Majestade do Samba


Perguntei ao espelho meu
Qual delas é mais linda do que eu? 

Ele então me respondeu 

Mais linda do que eu só eu 

 

 

Eu já vi você chorar
Na hora do meu desfile encerrar

 Dodô, a primeira porta-bandeira da Portela

 

 

Olha eu aí, cheguei agora
Cheguei pra levantar o seu astral
Posso perder, posso ganhar, isso é normal
Vinte e duas vezes campeã do carnaval

 

Fotos Guy Veloso: @guyveloso  e @estudioguyveloso 

 

 

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