Nem melhor, nem pior. Apenas uma escola que explode coração.

 

Duas escolas de samba, após amargarem péssimas classificações no desfile da Praça Onze, reúnem-se e decidem formar uma única agremiação. Azul e Branco e Depois Eu Digo cederam o lugar e assim, no dia 5 de março de 1953, como definiu Haroldo Costa "para a maior glória do samba carioca, nascia o Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro". Na ata da fundação constavam os nomes: Paulino de Oliveira (Presidente), Olímpio Correia da Silva, o Mané Macaco (Vice-presidente), Alcides Nascêncio de Carvalho (Secretário), Djalma Felisberto (Chocolate), Pedro Ceciliano, o Peru (Tesoureiro), Manoel Vicente de Oliveira (Segundo-tesoureiro), Durval Antônio Jesus (Procurador), Antônio José da Silva, o Malandro (Segundo-procurador), Manuel Bernardo, o Cabinho (Sindicância), Manuel de Souza Gomes, o Manelito (Sindicância), Custódio Augusto (Presidente do Conselho Fiscal). O industrial Antônio Almeida Valente Pinho, patrono das escolas Azul e Branco e da Depois Eu Digo, permaneceu como patrono da nova agremiação, afilhada da Mangueira e a primeira a adotar as cores Vermelho e Branco. O último fundador vivo, Djalma de Oliveira Costa, o Djalma Sabiá, morreu em 9 de novembro de 2020.

Com o lema de Nem melhor, nem pior, apenas uma escola diferente, a agremiação do morro do Salgueiro, na Tijuca, Rio de Janeiro, trouxe inovações ao carnaval, especialmente por ter sido o celeiro onde professores e estudantes da Escola Nacional de Belas Artes passaram a criar enredos, alegorias, fantasias em um estilo que consagrou-se até pelos campeonatos conquistados também por outras escolas de samba cariocas. Fernando Pamplona, Arlindo Rodrigues, Joãosinho Trinta, Maria Augusta, Rosa Magalhães são os personagens que fizeram o Salgueiro tornar-se, em menos de 20 anos após a fundação, em um dos mais importantes símbolos do carnaval brasileiro. Dado que jamais pode ser ocultado, a escola tijucana foi a primeira a desenvolver enredos sobre personagens históricos negros. O primeiro título de campeã foi em 1960 com o enredo Quilombo dos Palmares.



O Salgueiro possui nove títulos de campeão. O penúltimo, ficou tão marcante após a escola passar 18 anos sem conquistar o primeiro lugar, que qualquer pessoa sabe entoar os versos do samba de autoria de Demá Chagas, Arizão, Celso Trindade, Bala, Guaracy, Melquisedeque Marins Marques (o intérprete Quinho):  

Explode coração
Na maior felicidade
É lindo meu Salgueiro
Contagiando e sacudindo esta cidade

Mario Borriello, artista plástico, foi o carnavalesco e autor do enredo Peguei um Ita no Norte que conquistou 300 pontos e fez o salgueirense voltar a comemorar um campeonato, o oitavo da história da Academia do Samba. Fazendo pelo segundo ano o carnaval da agremiação, Borriello estava em casa quando ao pegar a prancheta para começar a desenhar o carnaval percebeu que cantarolava a canção composta por Dorival Caymmi. Criava-se o enredo, simples, objetivo, sem firulas, retratando uma viagem pelo litoral brasileiro. Os desenhos foram feitos naquela mesma madrugada e no mesmo dia foram apresentados a Miro Garcia, presidente da escola, que imediatamente aprovou o enredo e os figurinos. Seu Miro, bastante irritado em uma entrevista à televisão, minutos após a apuração e divulgação do bicampeonato da Mocidade Independente de Padre Miguel havia afirmado que o enredo para 1993 não seria afro, seria diferente do que a escola estava habituado a fazer. O Salgueiro desfilou na noite da segunda-feira de carnaval e, fato raras vezes ocorrido, saiu ovacionado por todas as arquibancadas da Passarela do Samba. Para muitos foi uma catarse coletiva sob o comando da Furiosa, como é conhecida a bateria da agremiação. Na Quarta-feira de Cinzas, as notas dos jurados confirmaram os aplausos e os gritos de É Campeã do público da Marquês de Sapucaí. Enfim, mais um desfile do Salgueiro que entrou para a história do carnaval do Brasil.

Em tempo, os acadêmicos e as acadêmicas sempre referem-se à escola usando o artigo masculino. No dia do aniversário da Academia do Samba, este Blog jamais poderia deixar de seguir a norma já consagrada por quem fez e faz O Salgueiro ser uma reconhecida instituição cultural do Brasil.


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Comentários

  1. A inegável importância da contribuição do Salgueiro à sociedade ultrapassou as esferas do Carnaval.
    A incursão de Fernando Plamplona na agremiação foi uma verdadeira revolução na história dos desfiles de escolas de samba.

    Ele, junto com o não menos importante, Arlindo Rodrigues, seguido por Joãosinho Trinta, Maria Augusta Rodrigues e Rosa Magalhães romperam com a estética dos enredos nacionalistas para contar a história não oficial do Brasil.

    Expoentes da construção da identidade brasileira, nomes como Zumbi de Palmares, Ganga Zumba, João Cândido e Xica da Silva, que os livros de histórias até então ocultavam, foram apresentados ao público em enredos memoráveis.
    O Salgueiro foi o responsável por colocar o negro como protagonista da sua própria história!

    Parabéns ao Acadêmicos do Salgueiro e parabéns ao Blog Tarso Marketing pela belíssima matéria!
    👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽

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