A saga de Agotime comemora 20 anos

 

O dia estava claro e a Beija-Flor encerrava a primeira noite do desfile do Grupo Especial com um dos mais aclamados desfiles da história da agremiação: épico, grandioso, emocionante, belíssimo, fantástico, arrebatador, emblemático, lindíssimo são os termos utilizados para descrever A Saga de Agotime, Maria Mineira Naê. O enredo levou para a Marquês de Sapucaí a história da esposa de Agonglo, rei do povo fon do Daomé no final do século XVIII e que foi vendida como escrava pelo enteado, o rei Adandozan, sucessor do pai. Agotimé passou por Cuba, pela Bahia e radicou-se no Maranhão, sendo considerada uma das fundadoras da Casa das Minas. Enfim, uma personagem que reforça as ligações históricas entre o Benin e o Brasil.  

Alexandre Graciano, a nosso convite, relata a importância daquele carnaval, marcando o iniciar de um novo século, na visão de um torcedor da escola de Nilópolis e um dos componentes no histórico desfile da manhã de segunda-feira. Com o acréscimo da visão que as fotos Wigder Frota proporcionam, este Blog comemora mais um grande momento da Cultura Brasileira.

Naquela manhã de Carnaval em 25/02/2001, a Beija-Flor de Nilópolis entrava na Marquês de Sapucaí com A Saga de Agotime e a Saga da Vitória. A escola amargava dois vices campeonatos consecutivos para a Imperatriz Leopoldinense e já tinha um histórico antigo de ser vice-campeã para a escola de Ramos em outras ocasiões 1981 e 1989 com o inesquecível "Ratos e Urubus larguem minha fantasia..."  Até então, não existia o que virou um tabu atual da escola de Nilópolis, ser campeã desfilando na Primeira Noite de Desfiles, ou seja, no Domingo. A saga em 2001 era mais vencer, para exorcizar a sequência de vices, do que vencer no Domingo.  

A Beija-Flor entrou na avenida aguerrida, com a sua imponência e luxo constantes, atrelada a um samba, que no pré-carnaval não foi tão exaltado, mas naquela manhã nublada, em que o sol brigava pra reluzir junto à Azul e Branco de Nilópolis, à medida que a escola avançava, a Saga de Agotime e da Beija-Flor ia sendo incorporada nos desfilantes e no público presente. O samba e a emoção tomaram a todos que estavam na Sapucaí, a começar pela comissão de frente com a transformação da negra em pantera, logo atrás um ala das Pretas-Velhas que deixou muitos na dúvida. Estavam aquelas Senhoras curvadas incorporadas ou não? Tamanha era a realidade, tamanha era a energia que aquelas Senhoras transmitiam. A Saga continuava em cada alegoria, em cada fantasia, em cada setor. Do meio para o fim embalados pela bateria, o sol desponta como nos áureos carnavais. O Nilopolitano não se abate ao calor, a luz do sol, pelo contrário, o sol se incorpora ao Desfile esquentando cada vez mais a magia e o esplendor daquela manhã de Carnaval. O suor dos componentes escorria pelas fantasias, cheios de garra de querer que a Saga termine vitoriosa percorreu todo a reta final do Desfile. A única a sair da avenida em 2001 com gritos de "É CAMPEÃ...".  

Na quarta-feira de Cinzas, a Beija-Flor amarga pela terceira vez consecutiva o vice-campeonato, por conta de meio ponto (0,5) no quesito Alegorias e Adereços: um queijo desabou na concentração e o destaque ficou ferido, mas acabou ferindo também 4000 componentes, que viu a sua Saga vitoriosa na pista, perder no júri.  Esta Saga tão falada desde o início não para por aí, esse desfile tem uma simbologia para o Nilopolitano, quanto a ser o único Desfile campeão que a Beija-Flor fez no Domingo de Carnaval. Por mais que ela tenha sido vice-campeã em outras duas oportunidades 2002 e 2009, a Saga de Agotime é a única apresentação digna de um desfile campeão feita pela Beija-Flor de Nilópolis em um Domingo de Carnaval. Isso jamais ocorreu antes ou depois, o que engrandece mais ainda esta Saga Nilopolitana, este tabu que ainda não foi batido e que fica numa frustração de lembranças deste desfile antológico em 2001, que possuía duas simbologias, a de ser a Saga de uma Rainha Negra e a Saga de uma Comunidade Negra em busca do seu primeiro título no Domingo. As Sagas se entrelaçaram naquela manhã inesquecível, em homenagem a Maria Mineira Naê.




 


A Saga de Agotime, Maria Mineira Naê

Autores: Déo, Caruso, Cleber e Osmar

 

Maria Mineira Naê 

Agotime no clã de Daomé e na luz dos seus Voduns 

Existia um ritual de fé 

Mas isolada do reino um dia escravizada por feitiçaria 

Diz seu vodum que do seu culto 

Um novo mundo renasceria  

Vai seguindo seu destino (de lá pra cá) 

Sobre as ondas do mar o seu corpo que padece (bis) 

Sua alma faz a prece pro seu povo encontrar  

Chegou nessa terra santa 

Bahia viu a Nação Nagô-ô-ô e através dos orixás 

O rumo do seu povo encontrou 

Brilhou o ouro, com ele a liberdade 

Foi pra terra da magia 

Do folclore e tradição 

Um buquê de poesia 

A Casa das Minas 

É o orgulho desse chão  

Sou Beija-Flor e o meu tambor 

Tem energia e vibração 

Vai ressoar em São Luiz do Maranhão


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Comentários

  1. Descrição esplendorosa tal qual o desfile , sem falar nas maravilhas de fotos . Vc foi o campeão .

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